Ao discutir a identidade das populações que vivem na
Amazônia, a comunidade ribeirinha imediatamente é lembrada como uma representação da cultura local. A partir dessa discussão se vê então a
importância do rio e das matas em diversas perspectivas da região, por exemplo,
o traçado da rede fluvial que faz a circulação tanto de pessoas como de
mercadorias, o que consequentemente originou o povoamento europeu
na Amazônia no início do século XVII. Isso porque, vale lembrar, que a Amazônia
encontra-se povoada pelos seus próprios nativos há milhares de anos, (estima-se
que há pelo menos 19 mil anos).
A
região amazônica pode ser caracterizada a partir de dois padrões de
ecossistemas chamados de “terras firmes” que são áreas altas ocupadas por
florestas que não estão sujeitas a inundações, e as “terras de várzea” que são
as áreas baixas, na beira dos rios, e que em consequência disso, sofrem com as
inundações em períodos de chuva. As terras de várzea compõem a maior parte do
território amazônico.
Imagem 1: Mata
de Terra Firme. Fonte: Wikipédia.
Imagem 2: Mata
de Várzea. Fonte: Wikipédia.
Quando
os ibéricos (portugueses espanhóis) vieram com o objetivo de ocupação, eles
optaram pelas terras de várzea por possuírem um número maior de nativos,
formando assim, vilas e aldeamentos que foram ampliados durante o período
conhecido como ciclo da borracha. A partir disso
os núcleos populacionais, e mesmo a própria rede urbana que estava diretamente
ligada aos rios, foram se formando.
É nesses
espaços onde vivem os ribeirinhos, em pequenas comunidades localizadas a beira
dos rios, dispersos em casas de madeira, construídas em palafitas.
Imagem 3: Palafitas.
Fonte: Wikipédia.
As famílias
ribeirinhas se estabelecem pelo trabalho na roça, e a participação da vida
social e religiosa da população construindo uma organização própria, estratégia
de adaptação, identidades e instituições.
Por meio da mestiçagem os ribeirinhos adquiriram conhecimentos,
valores de diversos povos e isso tornou possível o desenvolvimento de uma
cultura diversa. Os povos amazônicos não vivem isolados no espaço-tempo eles
mantém relações de trocas materiais e simbólicas entre si e com as comunidades
vizinhas.
Os ribeirinhos
dependem tanto da terra quanto da água para seu trabalho, trabalho este,
baseado em atividades como a pesca, a agricultura, a caça, a extração de
produtos florestais, a criação de animais domésticos, comércio e ainda pequenas
madeireiras (atividades de subsistência). Mas é importante destacar que todas
essas atividades respeitam o chamado “ciclo da natureza”, ou seja, é ela que
dita quando pescar, plantar ou colher. Se houver uma enchente por exemplo,
várias de suas atividades ficam comprometidas.
Ao fazerem uso
da água do rio como fonte de subsistência, os ribeirinhos a usam tanto para
beber, tomar banho e lavar utensílios domésticos como para realizar atividades
como a pesca.
Imagem 4: Ribeirinho
Pescando. Fonte: progresso.com
Geralmente as
atividades de pesca são feitas a noite. Há certo tempo, era possível encontrar
peixes para toda a família, mas atualmente o que se percebe é que há uma
ausência dos peixes decorrente da comercialização monopolizada, e mau uso dos
instrumentos de pesca, o que desestabiliza a economia de subsistência dos povos
ribeirinhos.
Os ribeirinhos extraem da natureza produtos
florestais como o açaí, a castanha-do-pará, o piquiá, o cupuaçu, o palmito e
outros. Estudos identificaram os vegetais oleaginosos como o cumaru, o
murumuru, o pracaxi, a andiroba, a ucuúba e o patauá, cujas sementes ou
amêndoas fornecem óleos para diversos produtos de beleza já industrializados.
Imagem 5: Açaí,
fruto. Fonte: avozdoxingu.com
Por isso,
esses produtos têm sido procurados por várias indústrias de alimentos, fármacos
e cosméticos do Brasil e do mundo, como por exemplo a Natura. As comunidades,
portanto, vendem as resinas, óleos e essências aromáticas para essas empresas.
Embora uma grande parte dos ribeirinhos vivem desta atividade, principalmente
aqueles que desenvolvem práticas de preservação em áreas florestais, ela ainda
é uma atividade informal (trabalho informal é o trabalho sem vínculos registrados
na carteira de trabalho ou documentação equivalente, sendo geralmente
desprovido de benefícios como remuneração fixa e férias pagas).
A lavoura
de subsistência é extensa e itinerante, ou seja, é realizada sem o uso de
tecnologias modernas e não possui um espaço fixo. Assim, a agricultura é feita
em determinados períodos e depois de cultivada a terra perde suas propriedades
produtivas e a lavoura é feita em outro local. O que predomina na região é a
agricultura da mandioca, raiz que constitui um dos alimentos básicos em
diversas formas (farinha, mingaus, bolos, maniçoba, tucupi e tacacá) do
amazonense. O sucesso de sua produção é pelo fato desta crescer facilmente em
solos pobres em nutrientes.
Imagem 6: Tucupi.
Fonte: colegiosacramentinas.com
Algumas famílias têm alimentos industrializados em sua alimentação
diária, eles não precisam se locomoverem para as cidades vizinhas para fazer as
compras, algumas vilas tem um pequeno comercio que os fornecem, porém, com
preço elevado.
Cada
comunidade possui sua igreja católica ou evangélica, e um salão de festas.
Também possui escolas que geralmente vão até o quinto ano do ensino
fundamental. Uma vez ao mês, em média, têm agentes comunitários fazendo visitas
as comunidades.
Imagem 7: Centro
Comunitário Ribeirinho. Fonte: Blog dos Ribeirinhos.
O meio de
transporte utilizado pelo ribeirinho recebe o nome de casco ou montaria, uma
canoa primitiva feita de um tronco escavado por processos manuais rudimentares,
sem toldo e sem vela utilizando apenas o remo para navegar, mas que foi
adaptado, passando a usar motor a gasolina que eles chamam de “rabeta” ou
“biqueta”.
Imagem 8: Canoa
Ribeirinha. Fonte: YouTube.
Sendo
assim, a vida cotidiana do ribeirinho se estabelece pelas relações constituídas
com e através do rio e das florestas.
Deste
modo o rio e a mata proporcionam os meios de
sustento, comunicação e transporte de milhares de ribeirinhos em toda a
Amazônia.
Imagem 9: Crianças
Ribeirinhas. Fonte: Revista do Brasil.
O texto aqui apresentado, revela um pouco da
identidade dos ribeirinhos, um dos grandes povos da floresta, que segundo
estudos realizados, somam hoje, cerca de 37 mil pessoas. Estamos aqui falando
de 37 mil “uns”, que lutam dia a dia, para se manterem, e para manter viva suas
crenças, seus costumes, suas características, e principalmente, o lugar onde
vivem: as florestas.
Temos muito o que aprender com esses povos, que
há milhares de anos, habitam nossas matas e retiram dela, mais que recursos,
retiram sabedoria de vida. Eles nos mostram que é possível fazermos uso dos
nossos recursos naturais de uma maneira sustentável, de modo que estes não se
tornem escassos com o passar do tempo.
Mas os ribeirinhos enfrentam um desafio: os
indivíduos que diariamente adentram nossas matas, em busca de riquezas, lucro e
dinheiro, que ignoram os que dela dependem para sobrevivência, e que ignoram o
tempo da natureza, deixando para trás um rastro de destruição, na maioria das
vezes, irreparável.
Também é preciso lembrar, que a Amazônia, é a
nossa casa comum. Ou seja, ela não pertence somente aos que dela dependem
diretamente, como os já citados aqui, quilombolas, castanheiros, babaçueiros,
seringueiros, indígenas e ribeirinhos, pois ela também é minha, é sua é de cada
um de nós! Já imaginaram o que seria de nós se a Amazônia não existisse?
Apresento aqui um fato que julgo ser uma prova contundente de que ela é mais
que necessária. Talvez vocês nunca tenham ouvido falar, ou nunca tenham se
atentado a isso, mas, se fizemos uma análise da faixa do globo na qual a
floresta está inserida (Zona Tropical) temos que na América, há a Amazônia, uma
floresta exuberante, com seus 915 mm de chuvas anuais. Nessa mesma faixa
longitudinal, seguindo para leste, no continente africano temos o grande
deserto do Saara, e ainda mais a leste, na Oceania, temos os desertos
australianos. O que eu quero mostrar com isso? O quanto a presença de um
elemento natural como a nossa floresta é importante para a dinâmica do país
como um todo, para isso basta comparar o clima de ambos os lugares citados. E o
que isso tem a ver com os povos? Bem, eles nos ensinam a preservar para não
perder este bem tão valioso!
O que apresento aqui, é apenas uma brecha,
pouco do muito que há ainda para se aprofundar. Espero que tenha servido para
despertar em cada um de vocês a curiosidade, e mais que isso, a consciência de
preservar!
Como uma forma de tornar os estudos um pouco
mais dinâmicos, trago aqui uma música intitulada “Pescadoras de Doações”, e
dois vídeos parte integrante de um documentário intitulado “AMAZÔNIA: A vida
nas águas”. Eles mostram um pouco do modo de vida dos ribeirinhos, como fazem
para se transportarem, irem à escola, e as dificuldades que enfrentam no dia a
dia. É necessário que ouçam, assistam e façam as atividades que
seguem.
Pescadoras de Doações
Boi Garantido
Na verde mansão dos deuses
A realeza é um simples rio
Onde o sol despeja raios brilhantes
Prateando as suas ondas que dançam
As canções do vento que alimentam
esperanças
Refletidas no sorriso das crianças
ribeirinhas
Pescadoras de doações
Que se ariscam sempre ao desafio
De colher os presentes lançados
Nas correntezas de um rio
Que é a vida e sustento desse povo
bravio
Da Amazônia
que encanta este imenso Brasil
Pra navegar tem que se ter coragem
Sobreviver tem que lutar
Vem da tradição dos viajantes
Que navegam nessas águas protegidos pela
fé
Um belo e solidário gesto de amor
De quem segue seu destino, mas que em
"Breves" voltará
Trazendo na bagagem uma nova esperança
Garantindo o amanhã dessas crianças
ribeirinhas.
“AMAZÔNIA:
A Vida nas Águas”
Série
exibida pela TV Record, episódios disponíveis em:
Atividades
Faça
uma interpretação dos seguintes versos da música: “Na verde mansão dos deuses, a realeza é um simples rio [...]”.
Considerando o seguinte trecho da canção: “Pescadoras de doações que se ariscam sempre
ao desafio [...] e o que foi visto nos vídeos, faça um texto com no mínimo
10 linhas, descrevendo as maiores dificuldades enfrentadas pelos povos ribeirinhos.
Por: Heloiza Xavier.
Referências
CHAVES, Maria do Perpétuo;
LIRA, Talita. Comunidades ribeirinhas na
Amazônia: organização sociocultural e política. Interações, Campo Grande,
MS, v. 17, n. 1, p. 66-76, jan./mar. 2016.
PIMENTEL, Maria Aparecida;
SALGADO Mayany; SANTOS, Cássio Rogério Ribeirinhos
da Amazônia: modo de vida e relação com a natureza.
PORTO-GONÇALVES. Carlos Walter. A Amazônia é nossa. De quem
mesmo? IELA – Instituto de Estudos Latino-Americanos, ago 2019. Disponível em: < http://www.iela.ufsc.br/noticia/amazonia-e-nossa-de-quem-mesmo>.
SILVA, Iêda. Modo de vida do ribeirinho: construção da
identidade amazônica. VIII Jornada internacional políticas públicas, UFMA,
ago. 2017.
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