Uma
sociedade que, quando olha para uma floresta, vê metro cúbico de madeira;
quando
olha para um rio, vê megawatts de energia; que olha para a montanha
e vê
toneladas de cassiterita, ouro e prata, já perdeu a condição de perceber a
dimensão
profunda da natureza.
Aílton
Krenac
Com cerca de 180 línguas faladas
ainda hoje, a Amazônia concentra um dos maiores patrimônios culturais do Brasil e da humanidade. Deste modo, além da
tão falada biodiversidade da flora e da fauna Amazônica é importante atentarmos
para a diversidade cultural existente na região representada especialmente
pelos assim chamados: povos da floresta.
Quem
são, então, os povos da floresta? Além dos
indígenas, povos originários da
floresta, conheceremos nas próximas publicações os babaçueiros, os castanheiros,
os quilombolas, os ribeirinhos e os seringueiros (Fig. 1). Esses grupos, também chamados de populações
tradicionais, se organizam em comunidades relativamente isoladas ao longo da
vasta Região Amazônica, representam diferentes culturas e mantêm uma relação
sustentável com a natureza, pois sabem que dependem dela para sobreviver.
Extraem da floresta, como veremos, diferentes produtos (como por exemplo, o
açaí, a castanha e o babaçu) sem provocar
grandes desmatamentos ou contaminar e extensa rede hidrográfica da
região. Trata-se de grupos humanos com uma rica cultura e que, pelo seu modo de
viver, contribuem para a preservação
ambiental.
Figura
1: Povos da floresta
O saber dos povos da
floresta
Precisamos, como professores,
estudantes e cidadãos, lutarmos para preservar o enorme acervo de conhecimentos
e os complexos tecnológicos dos povos que habitam a região Amazônica (indígenas,
castanheiros, babaçueiros, açaizeiros, quilombolas, ribeirinhos, seringueiros,
entre outros). Os índios, por exemplo, como explica o geógrafo Walter
Porto-Gonçalves, da Universidade Federal Fluminense (UFF) (Porto-Gonçalves,
2008), sempre desmatavam dois ou três hectares dessa floresta. Faziam suas
queimadas, regulavam estas queimadas, replantavam espécies de interesse nas
capoeiras, iam para outro lugar e anos depois voltavam. É por isso que alguns
antropólogos afirmam que a floresta amazônica é uma floresta cultural tropical úmida, tal a presença do dedo do
índio nessa formação. A tradição indígena pode nos dar informações
importantíssimas de como conviver com a floresta e não contra a floresta. Como
estamos vivendo uma de crise de paradigmas, de referências filosóficas,
tecnológicas, políticas e buscamos outros parâmetros de relação com a natureza,
essas comunidades são demasiadamente importantes para que possamos trocar
informações.
São enormes, portanto, as
possibilidades, inclusive econômicas, que derivam do que estamos estudando e
analisando. Os povos que habitam a Amazônia têm uma cultura vasta, uma enorme
riqueza acumulada que em muito pode e deve contribuir para um outro mundo
possível. Ou seja, um mundo que saiba conciliar o desenvolvimento econômico com
a preservação ambiental.
Defender a Amazônia e a tradição
cultural de seus povos, é tão importante como defender o baião, o xote, o
chorinho e o samba, mas não porque sejam brasileiros, e sim porque no dia em
que estes ritmos acabarem, a humanidade ficará mais pobre. A mesma coisa vale
para o tango, a polca, o jazz, para o rock e para a valsa. Ou seja, a humanidade
dança e sente diferente; deste modo, seu patrimônio se mostra exatamente na
diferença.
Cada povo, como afirma mais uma
vez o geógrafo Carlos Walter Porto-Gonçalves, tem um modo próprio de viver,
inclusive o direito de continuar vivendo do jeito que melhor lhe aprouver.
Alguns dizem que eles têm direito ao desenvolvimento. Sim, desde que sejam eles
que escolham o querem do desenvolvimento. Enquanto existirem Yanomami, Tikuna,
Apurinãs e uma série de outras comunidades aqui neste texto já citadas, há uma
possibilidade de se aprender a conviver com essa diferença. A sociedade
ocidental tem transformado a diferença em hierarquia: a diferença que a
natureza produziu em branco e preto foi transformada em racismo, em um processo
que coloca um como superior e o outro como inferior. A diferença homem/mulher
se transformou em machismo, hierarquizando-se enquanto uma superioridade do
homem sobre a mulher. E assim se deu com os povos, hierarquizando-os como se
houvesse uma linearidade que iria dos povos mais simples até os mais complexos,
que seria a civilização industrial europeia.
Caro estudante,
todo esse patrimônio cultural e natural representado pela Amazônia e seus
povos, só poderá ser devidamente valorizado se conseguirmos entender que a verdadeira
ameaça a esses patrimônios vem de uma sociedade cuja relação com a natureza e
as outras matrizes de racionalidade (modos de pensar) é de submetê-las aos
desígnios de acumulação de riquezas, transformando tudo em recursos a serem
explorados na medida em que transforma valores em preços, e os preços, sabemos,
são medidos abstratamente por números que não têm limites.
Perguntamos então: será então
possível desenvolver a região Amazônica e produzir riquezas sem desprezar o saber e tradições originárias dos povos
da floresta respeitando, assim, toda a contribuição milenar que esses povos
já deram e que essas populações camponesas deixaram como herança?
Nas próximas publicações você
poderá conhecer um pouco mais sobre os diferentes povos que habitam a grande
floresta Amazônica e assim poder se posicionar sobre esse importante tema da
atualidade.
Por:
Claudivan Sanches Lopes.
Referência
PORTO-GONÇALVES,
C. V. Temporalidades amazônicas: uma contribuição à Ecologia Política. Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 17,
p. 21-31, jan/jun. 2008. Editora UFPR. Disponível em: <https://revistas.ufpr.br/made/article/viewFile/13410/9036>.
Nenhum comentário:
Postar um comentário