segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Quem são os povos da floresta?

Uma sociedade que, quando olha para uma floresta, vê metro cúbico de madeira;
quando olha para um rio, vê megawatts de energia; que olha para a montanha
e vê toneladas de cassiterita, ouro e prata, já perdeu a condição de perceber a
dimensão profunda da natureza.
Aílton Krenac

               Com cerca de 180 línguas faladas ainda hoje, a Amazônia concentra um dos maiores patrimônios culturais do Brasil e da humanidade. Deste modo, além da tão falada biodiversidade da flora e da fauna Amazônica é importante atentarmos para a diversidade cultural existente na região representada especialmente pelos assim chamados: povos da floresta.
                  Quem são, então, os povos da floresta? Além dos indígenas, povos originários da floresta, conheceremos nas próximas publicações os babaçueiros, os castanheiros, os quilombolas, os ribeirinhos e os seringueiros (Fig. 1). Esses grupos, também chamados de populações tradicionais, se organizam em comunidades relativamente isoladas ao longo da vasta Região Amazônica, representam diferentes culturas e mantêm uma relação sustentável com a natureza, pois sabem que dependem dela para sobreviver. Extraem da floresta, como veremos, diferentes produtos (como por exemplo, o açaí, a castanha e o babaçu) sem provocar  grandes desmatamentos ou contaminar e extensa rede hidrográfica da região. Trata-se de grupos humanos com uma rica cultura e que, pelo seu modo de viver, contribuem para a preservação ambiental.

Figura 1: Povos da floresta


O saber dos povos da floresta

                Precisamos, como professores, estudantes e cidadãos, lutarmos para preservar o enorme acervo de conhecimentos e os complexos tecnológicos dos povos que habitam a região Amazônica (indígenas, castanheiros, babaçueiros, açaizeiros, quilombolas, ribeirinhos, seringueiros, entre outros). Os índios, por exemplo, como explica o geógrafo Walter Porto-Gonçalves, da Universidade Federal Fluminense (UFF) (Porto-Gonçalves, 2008), sempre desmatavam dois ou três hectares dessa floresta. Faziam suas queimadas, regulavam estas queimadas, replantavam espécies de interesse nas capoeiras, iam para outro lugar e anos depois voltavam. É por isso que alguns antropólogos afirmam que a floresta amazônica é uma floresta cultural tropical úmida, tal a presença do dedo do índio nessa formação. A tradição indígena pode nos dar informações importantíssimas de como conviver com a floresta e não contra a floresta. Como estamos vivendo uma de crise de paradigmas, de referências filosóficas, tecnológicas, políticas e buscamos outros parâmetros de relação com a natureza, essas comunidades são demasiadamente importantes para que possamos trocar informações.
                São enormes, portanto, as possibilidades, inclusive econômicas, que derivam do que estamos estudando e analisando. Os povos que habitam a Amazônia têm uma cultura vasta, uma enorme riqueza acumulada que em muito pode e deve contribuir para um outro mundo possível. Ou seja, um mundo que saiba conciliar o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental.
                Defender a Amazônia e a tradição cultural de seus povos, é tão importante como defender o baião, o xote, o chorinho e o samba, mas não porque sejam brasileiros, e sim porque no dia em que estes ritmos acabarem, a humanidade ficará mais pobre. A mesma coisa vale para o tango, a polca, o jazz, para o rock e para a valsa. Ou seja, a humanidade dança e sente diferente; deste modo, seu patrimônio se mostra exatamente na diferença.
               Cada povo, como afirma mais uma vez o geógrafo Carlos Walter Porto-Gonçalves, tem um modo próprio de viver, inclusive o direito de continuar vivendo do jeito que melhor lhe aprouver. Alguns dizem que eles têm direito ao desenvolvimento. Sim, desde que sejam eles que escolham o querem do desenvolvimento. Enquanto existirem Yanomami, Tikuna, Apurinãs e uma série de outras comunidades aqui neste texto já citadas, há uma possibilidade de se aprender a conviver com essa diferença. A sociedade ocidental tem transformado a diferença em hierarquia: a diferença que a natureza produziu em branco e preto foi transformada em racismo, em um processo que coloca um como superior e o outro como inferior. A diferença homem/mulher se transformou em machismo, hierarquizando-se enquanto uma superioridade do homem sobre a mulher. E assim se deu com os povos, hierarquizando-os como se houvesse uma linearidade que iria dos povos mais simples até os mais complexos, que seria a civilização industrial europeia.
                Caro estudante, todo esse patrimônio cultural e natural representado pela Amazônia e seus povos, só poderá ser devidamente valorizado se conseguirmos entender que a verdadeira ameaça a esses patrimônios vem de uma sociedade cuja relação com a natureza e as outras matrizes de racionalidade (modos de pensar) é de submetê-las aos desígnios de acumulação de riquezas, transformando tudo em recursos a serem explorados na medida em que transforma valores em preços, e os preços, sabemos, são medidos abstratamente por números que não têm limites.
             Perguntamos então: será então possível desenvolver a região Amazônica e produzir riquezas sem desprezar o saber e tradições originárias dos povos da floresta respeitando, assim, toda a contribuição milenar que esses povos já deram e que essas populações camponesas deixaram como herança?
            Nas próximas publicações você poderá conhecer um pouco mais sobre os diferentes povos que habitam a grande floresta Amazônica e assim poder se posicionar sobre esse importante tema da atualidade.  

Por: Claudivan Sanches Lopes.

Referência

PORTO-GONÇALVES, C. V. Temporalidades amazônicas: uma contribuição à Ecologia Política. Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 17, p. 21-31, jan/jun. 2008. Editora UFPR. Disponível em: <https://revistas.ufpr.br/made/article/viewFile/13410/9036>.

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