quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Ribeirinhos

      Ao discutir a identidade das populações que vivem na Amazônia, a comunidade ribeirinha imediatamente é lembrada como uma representação da cultura local. A partir dessa discussão se vê então a importância do rio e das matas em diversas perspectivas da região, por exemplo, o traçado da rede fluvial que faz a circulação tanto de pessoas como de mercadorias, o que consequentemente originou o povoamento europeu na Amazônia no início do século XVII. Isso porque, vale lembrar, que a Amazônia encontra-se povoada pelos seus próprios nativos há milhares de anos, (estima-se que há pelo menos 19 mil anos).
          A região amazônica pode ser caracterizada a partir de dois padrões de ecossistemas chamados de “terras firmes” que são áreas altas ocupadas por florestas que não estão sujeitas a inundações, e as “terras de várzea” que são as áreas baixas, na beira dos rios, e que em consequência disso, sofrem com as inundações em períodos de chuva. As terras de várzea compõem a maior parte do território amazônico. 


Imagem 1: Mata de Terra Firme. Fonte: Wikipédia.



Imagem 2: Mata de Várzea. Fonte: Wikipédia. 

         Quando os ibéricos (portugueses espanhóis) vieram com o objetivo de ocupação, eles optaram pelas terras de várzea por possuírem um número maior de nativos, formando assim, vilas e aldeamentos que foram ampliados durante o período conhecido como ciclo da borracha. A partir disso os núcleos populacionais, e mesmo a própria rede urbana que estava diretamente ligada aos rios, foram se formando.
          É nesses espaços onde vivem os ribeirinhos, em pequenas comunidades localizadas a beira dos rios, dispersos em casas de madeira, construídas em palafitas.


Imagem 3: Palafitas. Fonte: Wikipédia.

As famílias ribeirinhas se estabelecem pelo trabalho na roça, e a participação da vida social e religiosa da população construindo uma organização própria, estratégia de adaptação, identidades e instituições.
Por meio da mestiçagem os ribeirinhos adquiriram conhecimentos, valores de diversos povos e isso tornou possível o desenvolvimento de uma cultura diversa. Os povos amazônicos não vivem isolados no espaço-tempo eles mantém relações de trocas materiais e simbólicas entre si e com as comunidades vizinhas.
Os ribeirinhos dependem tanto da terra quanto da água para seu trabalho, trabalho este, baseado em atividades como a pesca, a agricultura, a caça, a extração de produtos florestais, a criação de animais domésticos, comércio e ainda pequenas madeireiras (atividades de subsistência). Mas é importante destacar que todas essas atividades respeitam o chamado “ciclo da natureza”, ou seja, é ela que dita quando pescar, plantar ou colher. Se houver uma enchente por exemplo, várias de suas atividades ficam comprometidas.
Ao fazerem uso da água do rio como fonte de subsistência, os ribeirinhos a usam tanto para beber, tomar banho e lavar utensílios domésticos como para realizar atividades como a pesca.


Imagem 4: Ribeirinho Pescando. Fonte: progresso.com

Geralmente as atividades de pesca são feitas a noite. Há certo tempo, era possível encontrar peixes para toda a família, mas atualmente o que se percebe é que há uma ausência dos peixes decorrente da comercialização monopolizada, e mau uso dos instrumentos de pesca, o que desestabiliza a economia de subsistência dos povos ribeirinhos.
Os ribeirinhos extraem da natureza produtos florestais como o açaí, a castanha-do-pará, o piquiá, o cupuaçu, o palmito e outros. Estudos identificaram os vegetais oleaginosos como o cumaru, o murumuru, o pracaxi, a andiroba, a ucuúba e o patauá, cujas sementes ou amêndoas fornecem óleos para diversos produtos de beleza já industrializados.


Imagem 5: Açaí, fruto. Fonte: avozdoxingu.com

            Por isso, esses produtos têm sido procurados por várias indústrias de alimentos, fármacos e cosméticos do Brasil e do mundo, como por exemplo a Natura. As comunidades, portanto, vendem as resinas, óleos e essências aromáticas para essas empresas. Embora uma grande parte dos ribeirinhos vivem desta atividade, principalmente aqueles que desenvolvem práticas de preservação em áreas florestais, ela ainda é uma atividade informal (trabalho informal é o trabalho sem vínculos registrados na carteira de trabalho ou documentação equivalente, sendo geralmente desprovido de benefícios como remuneração fixa e férias pagas).
            A lavoura de subsistência é extensa e itinerante, ou seja, é realizada sem o uso de tecnologias modernas e não possui um espaço fixo. Assim, a agricultura é feita em determinados períodos e depois de cultivada a terra perde suas propriedades produtivas e a lavoura é feita em outro local. O que predomina na região é a agricultura da mandioca, raiz que constitui um dos alimentos básicos em diversas formas (farinha, mingaus, bolos, maniçoba, tucupi e tacacá) do amazonense. O sucesso de sua produção é pelo fato desta crescer facilmente em solos pobres em nutrientes.


Imagem 6: Tucupi. Fonte: colegiosacramentinas.com

            Algumas famílias têm alimentos industrializados em sua alimentação diária, eles não precisam se locomoverem para as cidades vizinhas para fazer as compras, algumas vilas tem um pequeno comercio que os fornecem, porém, com preço elevado.
            Cada comunidade possui sua igreja católica ou evangélica, e um salão de festas. Também possui escolas que geralmente vão até o quinto ano do ensino fundamental. Uma vez ao mês, em média, têm agentes comunitários fazendo visitas as comunidades.


Imagem 7: Centro Comunitário Ribeirinho. Fonte: Blog dos Ribeirinhos.

            O meio de transporte utilizado pelo ribeirinho recebe o nome de casco ou montaria, uma canoa primitiva feita de um tronco escavado por processos manuais rudimentares, sem toldo e sem vela utilizando apenas o remo para navegar, mas que foi adaptado, passando a usar motor a gasolina que eles chamam de “rabeta” ou “biqueta”.


Imagem 8: Canoa Ribeirinha. Fonte: YouTube. 

          Sendo assim, a vida cotidiana do ribeirinho se estabelece pelas relações constituídas com e através do rio e das florestas.
        Deste modo o rio e a mata proporcionam os meios de sustento, comunicação e transporte de milhares de ribeirinhos em toda a Amazônia.


Imagem 9: Crianças Ribeirinhas. Fonte: Revista do Brasil.

O texto aqui apresentado, revela um pouco da identidade dos ribeirinhos, um dos grandes povos da floresta, que segundo estudos realizados, somam hoje, cerca de 37 mil pessoas. Estamos aqui falando de 37 mil “uns”, que lutam dia a dia, para se manterem, e para manter viva suas crenças, seus costumes, suas características, e principalmente, o lugar onde vivem: as florestas.
Temos muito o que aprender com esses povos, que há milhares de anos, habitam nossas matas e retiram dela, mais que recursos, retiram sabedoria de vida. Eles nos mostram que é possível fazermos uso dos nossos recursos naturais de uma maneira sustentável, de modo que estes não se tornem escassos com o passar do tempo.
Mas os ribeirinhos enfrentam um desafio: os indivíduos que diariamente adentram nossas matas, em busca de riquezas, lucro e dinheiro, que ignoram os que dela dependem para sobrevivência, e que ignoram o tempo da natureza, deixando para trás um rastro de destruição, na maioria das vezes, irreparável.
Também é preciso lembrar, que a Amazônia, é a nossa casa comum. Ou seja, ela não pertence somente aos que dela dependem diretamente, como os já citados aqui, quilombolas, castanheiros, babaçueiros, seringueiros, indígenas e ribeirinhos, pois ela também é minha, é sua é de cada um de nós! Já imaginaram o que seria de nós se a Amazônia não existisse? Apresento aqui um fato que julgo ser uma prova contundente de que ela é mais que necessária. Talvez vocês nunca tenham ouvido falar, ou nunca tenham se atentado a isso, mas, se fizemos uma análise da faixa do globo na qual a floresta está inserida (Zona Tropical) temos que na América, há a Amazônia, uma floresta exuberante, com seus 915 mm de chuvas anuais. Nessa mesma faixa longitudinal, seguindo para leste, no continente africano temos o grande deserto do Saara, e ainda mais a leste, na Oceania, temos os desertos australianos. O que eu quero mostrar com isso? O quanto a presença de um elemento natural como a nossa floresta é importante para a dinâmica do país como um todo, para isso basta comparar o clima de ambos os lugares citados. E o que isso tem a ver com os povos? Bem, eles nos ensinam a preservar para não perder este bem tão valioso!
O que apresento aqui, é apenas uma brecha, pouco do muito que há ainda para se aprofundar. Espero que tenha servido para despertar em cada um de vocês a curiosidade, e mais que isso, a consciência de preservar!
Como uma forma de tornar os estudos um pouco mais dinâmicos, trago aqui uma música intitulada “Pescadoras de Doações”, e dois vídeos parte integrante de um documentário intitulado “AMAZÔNIA: A vida nas águas”. Eles mostram um pouco do modo de vida dos ribeirinhos, como fazem para se transportarem, irem à escola, e as dificuldades que enfrentam no dia a dia. É necessário que ouçam, assistam e façam as atividades que seguem.

Pescadoras de Doações
Boi Garantido


Na verde mansão dos deuses
A realeza é um simples rio
Onde o sol despeja raios brilhantes
Prateando as suas ondas que dançam
As canções do vento que alimentam esperanças
Refletidas no sorriso das crianças ribeirinhas
Pescadoras de doações
Que se ariscam sempre ao desafio
De colher os presentes lançados
Nas correntezas de um rio
Que é a vida e sustento desse povo bravio
Da Amazônia
que encanta este imenso Brasil
Pra navegar tem que se ter coragem
Sobreviver tem que lutar
Vem da tradição dos viajantes
Que navegam nessas águas protegidos pela fé
Um belo e solidário gesto de amor
De quem segue seu destino, mas que em "Breves" voltará
Trazendo na bagagem uma nova esperança
Garantindo o amanhã dessas crianças ribeirinhas.


“AMAZÔNIA: A Vida nas Águas”

Série exibida pela TV Record, episódios disponíveis em:




Atividades

Faça uma interpretação dos seguintes versos da música: “Na verde mansão dos deuses, a realeza é um simples rio [...]”.  
Considerando o seguinte trecho da canção: “Pescadoras de doações que se ariscam sempre ao desafio [...] e o que foi visto nos vídeos, faça um texto com no mínimo 10 linhas, descrevendo as maiores dificuldades enfrentadas pelos povos ribeirinhos.

Por: Heloiza Xavier.

Referências

CHAVES, Maria do Perpétuo; LIRA, Talita. Comunidades ribeirinhas na Amazônia: organização sociocultural e política. Interações, Campo Grande, MS, v. 17, n. 1, p. 66-76, jan./mar. 2016.
PIMENTEL, Maria Aparecida; SALGADO Mayany; SANTOS, Cássio Rogério Ribeirinhos da Amazônia: modo de vida e relação com a natureza.
PORTO-GONÇALVES. Carlos Walter. A Amazônia é nossa. De quem mesmo? IELA – Instituto de Estudos Latino-Americanos, ago 2019. Disponível em: <http://www.iela.ufsc.br/noticia/amazonia-e-nossa-de-quem-mesmo>. 
SILVA, Iêda. Modo de vida do ribeirinho: construção da identidade amazônica. VIII Jornada internacional políticas públicas, UFMA, ago. 2017.

Quilombolas

O nome quilombolas vem da origem (kilombo 'união; cabana, acampamento, arraial' para atribuir direitos territoriais). Este nome se deu, originalmente apenas para chamar um local utilizado por populações nômades. Porém, a partir da escravidão, os escravos começaram a adotar o termo para lugares que eles fugiam, e foi especificamente no Brasil que tomou o sentido utilizado atualmente.

 Os escravos fugiam das fazendas e casas de família para os quilombos que eram aldeias que ficavam entocadas ou escondidas nas matas, em lugares de difícil acesso, ali eles se escondiam para não serem encontrados, pois estavam cansados de serem explorados e sofrer maus tratos. Todos nós, em algum momento ouvimos este nome “Zumbi dos Palmares”, este nome ficou reconhecido devido ser o principal líder de umas das aldeias quilombolas chamados “Quilombo dos Palmares” localizada em Pernambuco Alagoas.


 Imagem 1 - Escravos Maltratados
Fonte: <https: //fatosdesconhecidos.ig.com.br/6-piores-torturas-e-punicoes-que-os-escravos-sofreram-no-brasil>



 Imagem 2 - Aldeias de Quilombolas
Fonte: <https://midiacidada.org/indigenas-e-quilombolas-eternas-ameacas-a-ordem-e-ao-progresso>

Agora que já sabemos quem são os quilombolas, voltemos para o assunto principal de nosso interesse que é os “Quilombolas da Amazônia”. Para entendermos um pouco deste povo e sua forma de vida vamos nos concentrar em um dos povos quilombolas da Amazônia em especifico, no entanto é necessário destacar a quantidade de quilombolas presente na Amazônia.
Em um estudo realizado, foi encontrado cerca de “28 comunidades certificadas pela FCP (Fundo de Combate à Pobreza) pelo seu auto reconhecimento como remanescente de quilombos até janeiro de 2013”.  Em relação a quantidade de famílias presentes foram encontradas cerca de 1128 famílias.
Estes povos eram bem diversificados quando chegaram aos quilombos. “Segundo Gomes (1999), citado por Superti; Silva e Gutemberg (2015) a formação dos quilombos do Amapá por exemplo, era marcada pela presença de africanos e índios, fugitivos de Macapá, Mazagão, Guiana Francesa e do Baixo Amazonas-Pará. Estes povos estão localizados próximos ao rio Araguari, rio Pedreira e rio Matapi, mais especificamente nos municípios de Macapá e Santana onde se localizam o maior número de comunidades negras e auto reconhecidas remanescentes de quilombolas.

O principal meio de sobrevivência desta população é a pratica da pecuária, do extrativismo e o emprego urbano. Sendo que a maior parte vive da pecuária e extrativismo e apenas quatro especificamente utilizam o emprego urbano forma de renda. Para se locomoverem de um lado para o outro eles utilizam meios de transporte como alto móvel, motocicleta, bicicleta ou embarcação motora.


Imagem 3 - Fabricação da farinha de mandioca
Fonte: <racismoambiental.net.br/2017>


Imagem 4 - Quilombolas descascando mandioca

Nas casas, para ter energia elétrica os moradores utilizam geradores de energia compartilhado ou individual que é disponibilizado “pela Companhia de Eletricidade do Amapá – CEA através do Programa “Luz para todos” que disponibilizava um gerador de energia a diesel e 300 litros de combustível mensal”. (SUPERTI, Eliane e SILVA, Gutemberg.2015, pg.).

Em relação ao abastecimento de água este ocorre pelos poços ou pelos rios para fazerem as atividades cotidianas da comunidade.

 “Nenhuma das comunidades tem acesso à água tratada pela rede de distribuição. A grande maioria dos moradores consome água de poços ou de outras fontes como igarapé, olhos d’agua ou de minas próximas às residências” SUPERTI, Eliane e SILVA, Gutemberg.2015, pg.)”.

Esta população não tem saneamento básico vivem em condições precárias sem acesso a esgoto.
“O saneamento básico é, também, uma questão precária em todas as comunidades. Nenhuma conta com rede de esgoto, os dejetos sanitários são comumente depositados em fossas ou descartados no ambiente, o que indica grande probabilidade de contaminação da água, considerando sua forma de captação. O lixo é, na maioria das comunidades, queimado, mas muitas já contam com o serviço de coleta pública”. (SUPERTI, Eliane e SILVA, Gutemberg.2015, pg).


Imagem 5 - Casa de alvenaria
Fonte: Incra/Divulgação


Imagem 6 - Casa de madeira
Fonte: Brasil.elpais.com/2014

      A maioria das casas são próprias construídas de alvenaria e algumas de madeira. Nestas casas, os banheiros são internos, porem alguns banheiros são externos, principalmente nas moradias de madeira. Existem casas que não possuem banheiro e os moradores utilizam os dos vizinhos.
      As condições de infraestrutura dessas comunidades possuem carência de serviços públicos básicos, pois não tem acesso a água tratada e saneamento. As casas onde moram são construídas por eles mesmos ou quando há ajuda do governo e normalmente em cada casa abrigam mais de uma família. Devido à falta de infraestrutura e acesso a condições básicas de saúde está população sofre com doenças frequentes como a malária, sendo uma doença típica da região.
      Apesar das especificidades dessas comunidades, quanto ao seu patrimônio cultural, cultivo da mandioca, espaços das roças, festas de santos, das casas de forno e das celebrações, todas estas características guardam simbolismos únicos que retratam a vida dessas pessoas e que devem ser preservados pois são a partir de suas práticas individuais ou em grupo é que direcionam seu modo de trabalho, lazer, confraternizações, igrejas. Sendo que todos estes envolvimentos ou relacionamentos entre estas comunidades denotam sentidos que vão muito além da apropriação daquele espaço geográfico mais sim, envolvem um conjunto de relações sociais, culturais e que devem sim, estar marcada na sua etnia, no seu modo de viver e no seu povo.
     Vale ainda ressaltar a importância desses povos (Quilombolas) para a preservação de áreas intocadas da floresta Amazônia que são fundamentais no que diz respeito ao impedimento do avanço do desmatamento ilegal. Estes povos respeitam a mata eles coletam as castanhas sem denigrir a floresta, ou seja, não tira da mata mais do que aquilo que se deve tirar.
       Estes povos cuidam da floresta porque ali é a casa deles, e é dali que eles extraem seus recursos naturais como a castanha, açaí, bacaba, cipó-titica entre outros, quer seja para consumo ou mesmo na transformação em utensílios para seu próprio sustento. Desta forma cabe a nós pensarmos na importância destes povos para nós enquanto cidadãos urbanizados pois sem o nosso apoio, estamos contribuindo para o fim de sua cultura, para o desparecimento do seu povo e para o aceleramento de nossas matas e rios, enquanto que para nós não passa de uma mata para eles são a casa deles, se destruirmos sua cultura sua etnia, sua mata, seus ideias, automaticamente estamos empobrecendo o planeta e acabando com o que é nosso por isso, apoiar e preservar a cultura das comunidades quilombolas também é nosso dever.


Atividades
A partir da leitura do texto e análise do vídeo, produza um breve texto sobre a origem e importância dos quilombolas para a preservação da Floresta Amazônica.

Por: Loruana Raiza Dias.


Referências

COMISSÃO PRÓ ÍNDIO DE SÃO PAULO (Site). Quilombolas em Oriximiná. Disponível em: <http://cpisp.org.br/quilombolas-em-oriximina/quem-sao-como-vivem/manejando-a-floresta/>
SILVA, Gutemberg de Vilhena; SUPERTI, Eliane. Comunidades Quilombolas na Amazônia. Journals Openedition, 2015.
UNICAMP (Site). Disponível em: <https://www.unicamp.br/unicamp/saude>

domingo, 17 de novembro de 2019

Castanheiros

          Quando falamos da grande diversidade econômica e cultura da região amazônica, não podemos nos esquecer de mencionar os povos castanheiros, trata-se de comunidades que colaboram imensamente na extração da castanha-do-brasil, a qual é comercializada por todo o mundo e inclusive no mercado interno brasileiro. Nesse sentido, é preciso destacar o trabalho que esses povos desempenham sobre a extração e colheita do fruto, aliada com as dificuldades e as culturas desses ancestrais da floresta amazônica. Pois essa prática de colheita das castanhas é marcada de longa data, seja para a subsistência das suas famílias, seja na necessidade de se comercializar.
          Esses povos e a produção castanheira estão localizados, como se pode observar na figura logo abaixo (fig. 1), em várias extensões da floresta amazônica brasileira, ao longo dos estados de Amazonas, Pará, Tocantins, Acre, Amapá, Rondônia, Mato Grosso e Maranhão. 


 Fig. 1 - Mapa de localização das castanheiras


       As comunidades que vivem da extração da castanha são em sua maioria remanescentes de quilombos e de algumas tribos indígenas, que se localizam muito distantes uma das outras e dos centros urbanos.
       Pertencente a família Lecythidaceae, a castanheira-do-brasil (Bertholletia excelsa) ou Castanha do Pará, é uma das mais importantes espécies de exploração extrativa da Amazônia. Contribuindo de maneira significativa para a economia da região, destaca-se como o principal produto não madeireiro da região, os estados do Acre, Pará e Amazonas produzem cerca de 93% da safra brasileira. Suas sementes são comercializadas no comércio interno por todo o Brasil e tem grande destaque para as exportações, que são realizadas para muitos países do mundo. No Brasil, é uma das espécies ameaçadas de extinção. 
        Quando adulta, as CASTANHEIRA-DO-BRASIL (fig. 2) pode atingir mais de 60 metros de altura, com diâmetro na base do tronco, muitas vezes alcançando mais de 4 metros, com uma idade estimada de aproximadamente 800 anos.
        A extração da castanha ocorre principalmente nos meses chuvosos, ou seja, no verão amazônico, e como as castanheiras são muito altas, ou ouriços são coletados quando estão caídos no chão (fig. 3). Esses ouriços são cápsulas arredondadas que possuem uma carapaça muito dura e resistente que guardam em seu interior cerca de 12 a 20 sementes, que são as amêndoas que são comercializadas. Essas sementes são coletadas e armazenadas em sacas que são vendidas ou beneficiadas. O beneficiamento contempla a secagem de sementes (fig. 6) em estufas ou em ar livre, descascamento manual ou por meio de prensas metálicas e, opcionalmente, a extração do óleo. 


Fig. 2 - Castanheira 
Fonte: WWF - Brasil / Clóvis Miranda 


Fig. 3 - Trabalhadores quebrando os ouriços
Foto: Maurício de Paiva

            No período de coleta da castanha, algumas famílias mudam-se para dentro da floresta, com o intuito de aumentar a produtividade e um maior retorno financeiro da extração dos frutos das castanheiras. Como se voltam praticamente somente para essa atividade, as famílias que migraram para o interior da floresta, nas proximidades dos castanhais, dividem as tarefas entre eles, de maneira na qual os homens coletam e transportam as castanhas (fig. 5), e as mulheres quebram os ouriços de castanha (fig. 3)
            O transporte dos frutos (fig. 4) ocorre por meio de embarcações e rabetas (canoas com motores), sendo os rios a principal via de transporte destas comunidades e desses produtos. 


Fig. 4 - Transporte das castanhas
Foto: Maurício de Paiva


Fig. 5 - Colheita dos ouriços
Foto: Maurício de Paiva

            Cabe ressaltar que esses povos enfrentam alguns problemas nesse processo de extração das castanhas, podendo-se encontrar situações como: exploração e semiescravidão. Existem outros agravantes como a extração de minérios nas terras das comunidades castanheiras, que causam grandes danos ambientais e sociais, ademais, tem o corte ilegal da madeira das castanheiras, o que ocasiona a queda da produtividade da castanha-do-brasil.
            Outro ponto de destaque com relação a degradação das castanheiras da floresta amazônica tem sido vinculado ao agronegócio, que apesar de trazer grandes crescimentos para a economia do país, apresenta grandes problemas quando falamos de um avanço criminoso e desenfreado que ocorre na floresta amazônica, pois existem grandes áreas invadidas irregularmente para a produção de soja e milho, por exemplo, bem como da pecuária, fatores como esses ameaçam profundamente a biodiversidade da região, inclusive das castanheiras-do-brasil. Ou seja, a manutenção dessa atividade que, por sua vez, tem consequências diretas na preservação da floresta, depende em grande medida, de políticas públicas adequadas à sua manutenção e ampliação dos resultados econômicos e sociais. As populações detêm um saber que precisa ser reconhecido e preservado para as gerações futuras.

Curiosidades sobre a Castanha-do-Brasil

            As castanhas retiradas dos ouriços (fig. 7), são amêndoas são altamente nutritivas, razão pela qual recebe o apelido de “carne vegetal”, uma amêndoa de castanha, segundo estudos realizados, apresenta que esses frutos tem todas as proteínas presentes na carne de vaca, com uma vantagem importante, a digestão é realizada com maior facilidade pelo organismo humano. Para que tenhamos uma ideia, a cada duas amêndoas de castanhas, temos a mesma quantidade de proteínas de um bife de 100 gramas de carne de vaca. Interessante esse comparativo para que consigamos ter a compreensão de que com um bom manejo e uma melhor elaboração nas políticas públicas, eventualmente poderíamos ter essas castanhas ofertadas nas escolas por todo o Brasil, de uma maneira que ajudaríamos na conservação da floresta amazônica por se tratar de um fruto extraído das reservas naturais, e também no auxílio de desenvolvimento da região de uma forma sustentável (PORTO-GONÇALVES, 2008).
            Outro ponto importante é a cultura produzida pelos castanheiros da Amazônia, povos que estão presentes na floresta há muitos anos, observamos a preservação dos costumes, da maneira em que vivem nessas localidades e se relacionam com a natureza, sempre com muito respeito e admiração por quem sempre lhes serviu como lar e como meio de subsistência, com o manejo das castanhas. Foi com eles que aprendemos o quanto pode ser saboroso e nutritivo desfrutar de um fruto que é nativo daquela região, daquele clima, daquele solo, ou seja, com eles aprendemos que podemos ter a fabricação de bolachas, de leite, de óleos, de doces, enfim, eles prontamente compartilharam com o resto do mundo as suas particularidades, e necessitamos respeitar esses povos da maneira que eles merecem, preservando a sua cultura e a floresta, que é um poço de riquezas naturais, cujo qual não conseguimos enxergar o fundo.  


Fig. 6 - Secagem da castanha
Foto: Maurício de Paiva


Fig. 7 - Castanha-do-brasil
Fonte: <https://amazonia.org.br/2014/01/dezcuriosidades-sobre-a-castanha-do-brasil-que-voceprovavelmente-nao-sabia/>


            Agora que você já leu o texto logo acima, já tem um prévio conhecimento sobra a castanha-do-brasil, ou simplesmente a castanha-do-pará, nos atentamos para a importância da preservação da cultura desses povos que são importantes moradores da floresta e nos abastecem com os frutos dessas árvores maravilhosas. Antes de mais nada, é necessário que entendamos que eles residem nessa floresta por milhares de anos, e essas tradições são transferidas de geração em geração, e cabe ressaltar um ponto importantíssimo. Esse ponto é a preservação e a conciliação que eles possuem diante da floresta, representando uma harmonia e um equilíbrio que fazem toda a diferença. Para que tenhamos uma região amazônica desenvolvida socialmente e economicamente, não precisamos degradá-la, devemos, portanto, nos conscientizarmos que é possível um avanço no desenvolvimento e ao mesmo tempo um equilíbrio entre as partes, ou seja, entre homem e natureza. 

        Atividades
1)    Após a leitura do texto, escreva a sua opinião sobre a preservação das castanheiras da floresta amazônica.
2)  Destaque qual foi o ponto do texto que mais lhe chamou atenção. Por quê? 

Por: Leonardo Gatti.

Referências

WWF (Site). Castanheira do Brasil: grandiosa e ameaçada. Disponível em: <https://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/especiais/biodiversidade/especie_do_mes/fevereiro_castanheira_do_brasil.cfm. Acesso em: 28 de outubro de 2019.

NATIONAL GEOGRAPHIC (Site). Coleta da castanha resiste em integração ancestral com floresta Amazônica.  Disponível em:


AMAZÔNIA.ORG (Site). Castanheiros atuam como guardiões da floresta Amazônica no Amapá. Disponível em: <http://amazonia.org.br/2019/06/castanheiros-atuam-como-guardioes-da-floresta-amazonica-no-amapa/>. Acesso em: 28 de outubro de 2019.

MLLER, Carlos Hans. A cultura da castanha- do-brasil/ Empresa Brasileira de pesquisa Agropecuária, Centro de Pesquisa Agroflorestal da Amazônia Oriental. Brasília: EMBRAPA-SPI, 1995.
PORTO-GONÇALVES, C.W. Temporalidades amazônicas: uma contribuição à Ecologia Política. In: Desenvolvimento e meio ambiente, n. 17, p. 21-31, 2008.


sábado, 16 de novembro de 2019

Babaçueiros

Os babaçueiros são povos extrativos, que tem como base para a sua sobrevivência a exploração do babaçu. Grande parte dessa população extrativista são mulheres, conhecidas como quebradeiras de coco babaçu, são aproximadamente cerca de 300 mil famílias espalhadas em comunidades camponesas do Maranhão, Piauí, Tocantins e Pará, em áreas de transição entre o Cerrado, a Caatinga e a Floresta Amazônica.
No mapa abaixo, perceba as áreas de ocorrência do coco babaçu no Brasil:



O babaçu (figura 2 e 3) é uma espécie de palmeira oriunda da região norte do Brasil, os cachos com os cocos levam cerca de nove meses para cair, quando caem começam as coletas pelos povos extrativistas, os cocos são quebrados ao meio para a extração sobretudo da amêndoa, que é utilizada para a produção de óleo. O babaçu é transformado em diversos produtos, sendo todo aproveitado, fornecendo manteiga vegetal, amêndoas: utilizada para a alimentação, produção de cosméticos e biodiesel, sendo um fruto que apresenta um grande potencial econômico, no entanto o óleo é o mais utilizado para a comercialização. 





Figura 2 - Palmeira babaçu – Fonte:   http://www.portalmacauba.com.br/2018/01/babacu-simbolo-da-luta-das-quebradeiras.html





Figura 3 – Babaçu – Fonte: https://lar-natural.com.br/beneficios-coco-babacu/

Nesse sentido, o fruto é essencial para o sustento de pessoas sem terras das regiões onde ocorrem o babaçu, em especial as quebradeiras de coco, como já mencionado. A maior parte dos babaçuais estão em grandes fazendas, o que acaba se tornando um quadro difícil para as quebradeiras, que tentam mudar essa realidade, devido as diversas violências sofridas durante décadas por essas mulheres, além da sua organização, foi criada a Lei Babaçu Livre, implantada no ano de 1997 no município Lago do Junco (Maranhão), logo, outros municípios seguiram esse exemplo, e Tocantins aprovou a lei em nível estadual.
A Lei Babaçu Livre proíbe que sejam derrubadas as palmeiras e permite o acesso e o uso comunitário dos babaçuais pelas quebradeiras, mesmo que estejam em terras privadas. Vale ressaltar, que a maioria dos municípios não cumprem a lei, sendo raros os municípios que a cumprem, muitos fazendeiros fazem questão em revogá-la, dizendo que o babaçu é uma praga, por se adaptar facilmente ao ambiente, possuem interesse de derrubar e ocupar as terras para atividades agropecuárias, o que acaba gerando os conflitos agrários.
Devido a todos esses problemas enfrentados, levaram as quebradeiras a organizarem o Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), uma organização que representa os interesses sociais, políticos e econômicos deste grupo, dando as mulheres a possibilidade de serem vistas e reconhecidas, possibilitando a chance de se desenvolverem, por meio do conhecimento e experiência que o trabalho do movimento oferece. No entanto, a Lei Babaçu Livre tem sido a principal conquista das quebradeiras.


Figura 4 - Quebradeiras de coco babaçu – Fonte: https://reporterbrasil.org.br/comunidadestradicionais/quebradeiras-de-coco-babacu/

Note na figura acima, que o trabalho realizado pelas quebradeiras do coco babaçu é manual, ou seja, a quebra do coco é realizada sem o auxílio de máquinas, em média, por dia, as quebradeiras conseguem apurar de 6 a 8 kg de amêndoas, para um litro dessas amêndoas, recebem R$ 2,50.
Você considera importante preservar essa atividade, por quê?
Releia o texto novamente, analise as figuras e anote aquilo que te chama mais atenção a respeito desses povos extrativos.
Assista os vídeos a seguir:







Quais informações dos vídeos que te chamaram mais atenção, por quê?


Por: Viviane Oliveira.


Sites para produção do texto e aprofundamento


REPÓRTER BRASIL (Site). Quebradeiras de coco babaçu. Disponível em: <https://reporterbrasil.org.br/comunidadestradicionais/quebradeiras-de-coco-babacu/>
PORTAL SÃO FRANCISCO (Site). Babaçu. Disponível em: <https://www.portalsaofrancisco.com.br/alimentos/babacu>
MIQCB (Site). Movimento interestadual das quebradeiras de coco babaçu. Disponível em: <https://www.miqcb.org/quem-somos>
SCIELO (Site). A lei do babaçu livre: uma estratégia para a regulamentação e a proteção da atividade das quebradeiras de coco no estado do Maranhão. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/seq/n68/07.pdf